Da Memória e da Tradição Oral à Construção de uma Historiografia Africana
Pedrito Cambrão
DOI:
https://doi.org/10.70634/reid.v2i10.128Palavras-chave:
tradição oral, historiografia, memóriaResumo
A teoria social contemporânea tem vindo a enfatizar a relação existente entre memória e tradição oral na produção de conhecimentos, na sua vertente transdisciplinar. Este artigo, procura trazer à colação algumas meditações atinentes à legitimidade do contributo da memória e da tradição oral na produção do conhecimento histórico e, simultaneamente, o seu contributo para a formação de uma historiografia africana. Por isso, o reconhecimento do contributo da historiografia moderna para a valorização de um conjunto de práticas memorativas e identitárias de uma determinada sociedade abre caminho para reflectirmos sobre a memória e a tradição oral. As tradições orais africanas abrangem o vasto universo da literatura oral (provérbios, orações, mitologias, lendas, expressões idiomáticas, etc.), aspectos que não devem ser ignorados pelos historiadores, pois constituem o que Maurice Halbwachs (2008) designa memória colectiva. Partindo de uma perspectiva qualitativa-hermenêutica, assume-se que a tradição oral não se limita a estórias e lendas, ou mesmo a relatos mitológicos, mas, sim, também reflecte uma grande escola da vida, já que relaciona e recupera os aspectos vitais inerentes aos povos. Nesta óptica, percebe-se que tanto as memórias quanto a tradição oral possuem um substracto funcional comum, que é o de agirem como antídotos do esquecimento ou fontes de imortalidade. Sendo assim, ao oferecer meios para preservação da memória colectiva, a tradição oral coopera para a sua reassunção e disseminação.